quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cinco, dez, quinze. Vinte, vinte e cinco, trinta.

Dispôs as moedas em cima da mesa, de maneira a que formassem uma cruz. Na posição do meio, colocou a última moeda com cuidado, não evitando o tinir seco, abafado pelos dedinhos gordos.
"Uma cruz", disse. "Que bonita cruz que se formou aqui, não acha? Parece que é de propósito. Até parece vontade de Deus."
Não conseguia sequer erguer os olhos. Olhava fixamente para a cruz que se desenhara na mesa.
"Não fique assim, homem! É a vontade de Deus, é o que eu lhe digo. E olhe que eu haveria de saber!", disse, soltando uma risada.
Retirou as moedas da mesa, uma a uma. Limitou-se a repetir secamente: "cinco, dez, quinze. Vinte, vinte e cinco, trinta". À medida que saía, sentiu o tinir das moedas debaixo das vestes, abafado pelo veludo da bolsa.