domingo, 19 de abril de 2009

Roda de choro

A batida do pandeiro, meio swing, meio samba, ditava aos corpos húmidos um ritmo frenético. Os ombros embrulhavam-se aos pares de pares nesse rima a compasso de dezenas de casais.
As saias bailavam pelo rebordo das coxas negras de cetim, de entre onde irrompia, à vez da batida acelerada, ora um joelho ora uma perna de tecido branco.
As mãos de dedos delgados seguiam os contornos de costas largas e as mãos de dedos grossos cingiam cinturas lisas e finas. De faces coladas, os olhos adivinhavam-se ao fim de cada réplica sussurrada ao ouvido. As paredes escorriam o tom violeta das meias luzes e o clarinete, como o grito desvairado de uma sirene, jorrava sobre a sala o sémen da transgressão.