quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

vento

A chuva estava a cair sobre a cidade como um bênção leve. Virei-me para a Rua do Alecrim e senti o vento que vinha do rio ou do mar. Era mais forte e mais fresco que o ar e a chuva que o rodeavam e fez o chapeu de chuva saltitar de um medo ignorante.
Mantive-o sem custo entre os dedos da mão, acalmei-o.
Há muito tempo que não sentia esta tremura, esta quase-saudade de qualquer coisa de que me vou (vão?) esquecer não tarda muito. Esta quase-vontade de não me esquecer.

E foi nessa altura que me veiram à cabeça as implicações religiosas de uma vela inchada só de um lado.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Rain

A chuva lá fora,
o manto cinzento que esconde o azul de Lisboa
parece-me uma visita daquel'outra parte da minha vida.

sábado, 28 de outubro de 2006

fire

Quantas cartas, por despeito, já foram queimadas?
Quantas foram escritas na certeza seguríssima de que iam ser queimadas?
O que escreve uma pessoa na certeza de não ser lido senão pelas chamas.
Quantas cartas já começaram com

Querido fogo,

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

"The faster you go, the more stable it becomes"

How many sentences ring true just because they sound nice?
How much of our lives depends on these flukish combination of words, that were said in a completely different context anyway?
Who ever said they were right, just because they were pretty?
Who ever said they had any bearing into the way we ought to live and they're to be believed?
Since when is pretty necessarily true?

domingo, 3 de setembro de 2006

Poesia

Não me parece muitíssimo complicado dizer
não sou nada
Ou que
a metafísica é a consciência de que se está mal disposto.

Complicado é ir além disso
Ou, pior ainda,
Ir aquém.

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Peregrinação na forma tentada

O mar não chama por mim, como se não houvesse nada do outro lado.
Sinto-me Adão, o Néscio.

segunda-feira, 31 de julho de 2006

Armado às aliterações

O sinal mais sonoro de que se está sozinho
é o silêncio.