terça-feira, 22 de abril de 2008

Deus Teenager Est

Curvado ao peso da cruz, arrastava o passo monte acima. O olhar desviou-se para uma gota que lhe escorria pelo cabelo; o sangue entrelaçado no suor.
Vincou um sorriso no canto do lábio e começou, monte acima, a cantarolar as músicas da Sua adolescência.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

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Não me conformei ao medo de te ver vazia
Nem me conformo à ânsia de te querer encher
O vento cantar-me-à a resposta
Ao ouvido

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Ao meu avô

De um pulo, voou por cima dos três degraus que davam para a porta da igreja. A escuridão e o silêncio fizeram-no travar o passo e tirar o chapéu da cabeça, enquanto um frescura doce lhe escorria pelo pescoço. Mas não estava nem para santinhos nem para salamalecos, avisou, enquanto um sorrisinho lhe bailava nos cantos dos lábios.
Ao canto, ao pé do altar, do lado direito, estava a figurinha da sua santa de devoção, Nossa Senhora da Guadalupe. Foi sentar-se à frente dela.

"Que parvo", pensou, enquanto sentia o sorriso crescer dentro dele, quase a entornar-se pela boca fora. Tentou, a esforço, esconder-se dos olhos suplicantes da virgem. Baixinho baixinho, começou a cantar.

Ao passar da ribeirinha, pus o pé,
Molhei a meia, pus o pé,
Molhei a meia, pus o pé,
Molhei a meia

Não casei na minha terra, fui casar
A terra alheia, fui casar
A terra alheia, fui casar
A terra alheia

Parou de rodar o chapéu impaciente nas mãos e fisgou um olhar para a Virgem Santíssima.

Minha Mãe dá-m’um conselho, que me dói
A passarinha, que me dói
A passarinha, que me doí
A passarinha

Ò filha coç’à c’o dedo, qu’eu também
Cocei a minha, qu’eu também
Cocei a minha, qu’eu também
Cocei a minha

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Mar meu

Olho o mar meu
Um mar de medo
De um brado escuro, ledo, calado
Mudo no lábio trémulo
Brando num mar de mau grado

O mar meu manso
Na maré vazia da morte
De um mar de mora
Milha perdida ao tempo
Ao verde achado ora

O mar meu vivo
Onde vive perdida a hora
Mar de mel, mar de sol, mar de sim
Mar meu onde perco os olhos
A achar um mar de mim