quarta-feira, 26 de maio de 2010

Tempo

A tempestade criava um tumulto à superfície das águas.

No fundo, um globo jazia, pesado como uma bola de sabão. Estava cheio de tempo. Dentro do globo, à distância, o tropel ruidoso de um cavalo agitava a terra, uma espada brandia a luz bronzeada do sol. À distância, ouvia-se o chilrear de um pássaro que afagava as faces ainda tépidas de uma manhã fresca. Ao longe, um sol punha-se, uma onda quebrava na rocha, um comboio deixava um vago rasto calmo de fumo branco, sete palmos acima dos carris. Uma onda, de novo, quebrava a rocha. No murmúrio da onda, ao longe, ouvia-se alguém sussurrar o nosso nome. De pés enterrados no mar, ouvíamos o sopro das folhas chamar o nosso nome, à distância.

A certa altura, o globo começou a subir. Lenta, como uma âncora içada à força de mãos, a bola de sabão subia vagarosa pela água.

Lá fora, a gota mais pequena da tempestade caía ao sabor do vento, esquecida da hora em que o céu a lançara.

O globo aproximava-se da tona de água. A superfície da bola estava prestes a tocar a pele da água.

Nesse preciso momento, a gota mais pequena da tempestade tocou na superfície do globo.

O globo abriu-se.

Como uma bola de sabão, o globo desfez-se no nada que existe entre o ar e a água e o tropel do cavalo calou a tempestade e a luz de bronze da espada aclarou o dia.

Depois, fez-se o silêncio que precede tudo.

O tempo, finalmente, era chegado.